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Exposição de Arte e Ciência

Data

10 November 2023 - 14 January 2024

Local

Sala Azul | Museu

Exposição da artista plástica Conceição Abreu
 

O herbário delineado através do desenho e do gesto 

O Museu Nacional de História Natural e da Ciência está a desenvolver um programa de residências artísticas no qual os artistas podem trabalhar a partir das coleções científicas do museu e também com os seus curadores. A Exposição Natura vem no seguimento da residência artística de Conceição Abreu no museu para estudar os Herbários,[1] onde teve a oportunidade de ser acompanhada pela Professora Doutora Ana Isabel Dias Correia curadora dessa coleção científica. A artista trabalhou essa coleção numa visão contemporânea, intencionalmente focada no desenho linha, contínuo, que sai da folha de papel, numa abordagem que evoca a modernidade. “Numa palavra, para que toda a modernidade seja digna de se tornar antiguidade, é preciso extrair dela a beleza misteriosa que a vida humana coloca involuntariamente nela.”[2] Como resultado dessa pesquisa são apresentados oito desenhos e dois trabalhos têxteis tendo como referencial os herbários antigos. 

Idealizar uma exposição a partir de uma coleção científica do museu foi o mote que desencadeou este projeto artístico e o desafio a que se propôs Conceição Abreu. Através da visualização e observação detalhada dos herbários, os trabalhos artísticos foram sendo construídos e a sua estética desenhada. “Todavia, é na frente das plantas que resulta necessário perguntar-se o que seja um vivente e o que significa estar no mundo. É observando e estudando as plantas que vamos conseguir entender do que é capaz de verdade a mente, e o que pode o espírito. Afetam uma soberana indiferença: ao nosso mundo de homens, à cultura dos povos, à sucessão dos reinos e das épocas do espírito. Podem ser muitos elegantes, mas não seguem modas. Contudo, nenhum outro ser vivente contribui tanto quanto eles para a qualidade estética do cosmo.”[3] Com a preocupação humanista de ligar as várias culturas e conhecimentos, Conceição Abreu leva-nos através das suas linhas, fios, desenhos, gestos, a uma tentativa de universalidade que culmina num só propósito, a criação artística.

Citando a artista, “na relação com o meio — entre o espaço e um sentido de lugar, crio tecituras. Tal como acontece nos processos têxteis, desenvolvo a minha prática artística a partir de movimentos simples e repetitivos que aproximam, ligam e entrelaçam.” A inspiração e a criação como um ato contínuo fazem nascer as ramificações e ligações necessárias para a construção destes trabalhos.

A importância do corpo, é muito evidente no trabalho artístico de Conceição Abreu, desenha como dança, esta interação leva-a à construção de trabalhos voláteis e desprendidos, sem começo nem fim, e como nos diz Conceição Abreu, “na cadência da repetição dos gestos, entre a permanência e a deslocação, exploro possibilidades de entretecimento com o mundo. Com sentido háptico, a partir de estímulos táteis e cinestésicos, investigo espaços de inter-relação entre o corpo e o espaço, a exterioridade e a interioridade, o presente e a memória. Ligações que são geradas na duração da prática, que é realizada no tempo que é o momento presente, mas que é, simultaneamente, transitório.”

Ao longo do percurso artístico de Conceição Abreu, de um acumular de práticas, de ideias, de construção, de hesitação, de medo, de sonho, de cansaço, a sua vida vai-se desenrolando numa cadência de linhas materializadas em desenhos, fotografias, instalações. “Com os anos, o isolamento, a fadiga, uma espécie de estupor veio a cair sobre ela. Era-lhe recusada a consolação das lágrimas; ia-se consumindo naquela secura, como no meio de um deserto árido. Em certos momentos, delicados resquícios do passado vinham, inexplicavelmente, inserir-se no presente, sem que se soubesse de onde provinham.”[4] É na sua forma de sentir e de viver que provém a materialização da imaterialidade, o seu contributo artístico.

 

Sofia Marçal

 

[1] “As coleções de plantas vasculares do herbário LISU totalizam cerca de 120.000 folhas de herbário. As duas principais coleções são o Herbário Português do Professor António Xavier Pereira Coutinho e o Herbário Geral. O Herbário Português é uma coleção de referências que inclui a coleção de A.X. Pereira Coutinho (1851-1939). Esta coleção iniciou-se com os espécimes recolhidos no âmbito da publicação da Flora de Portugal (1913, a 1a edição e 1939, a 2a) e tem sido continuada desde então por outros botânicos. Contém cerca de 31.000 exemplares de espécies da flora de Portugal continental.”

[2] Charles Baudelaire, in: O pintor da vida moderna, p.26.

[3] Emanuele Coccia, in: Mente e matéria ou a vida das plantas, p.211.

[4] Marguerite Youcenar, in: Como a água que corre, p.25. 

 

Curadoria: Sofia Marçal

Inauguração: 9 novembro, 18h00 às 20h00
 

CONVITE

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