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Exposição de Arte e Ciência

Data

19 Maio - 10 Dezembro 2023

Local

Museu Nacional de História Natural e da Ciência

A subtiliza artística no trabalho científico de Abel Salazar

A Exposição Abel Salazar – Paisagens Biológicas que se apresenta na Sala Branca Edmée Marques1 entra em diálogo com a exposição Cuidar e Curar, mostra de objetos da coleção da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, depositados no Museu. Abel Salazar (1889-1946), médico, professor, investigador, pintor e resistente ao regime salazarista português. Trabalhou e viveu no Porto.

A exposição vem ao encontro da política programática do museu, no âmbito da ligação da Ciência com a Arte. Não sendo evidente aqui o lado artístico2  de Abel Salazar e uma vez que não expomos as suas pinturas, tentámos criar uma atmosfera artística, ao colocarmos imagens suspensas em redor da sala. Imagens microscópicas obtidas a partir de preparações histológicas de Abel Salazar. Como diz Montesquieu, “às vezes há um encanto invisível nas pessoas ou nas coisas, uma graça natural que não se pode definir.”3  Deixamos-nos encantar por estas imagens científicas.

Segundo a Doutora Maria Strecht4, ABEL SALAZAR – PAISAGENS BIOLÓGICAS propõe uma viagem ao mundo microscópico e ao trabalho do histologista Abel Salazar (1889-1946), pretendendo contribuir para a disseminação da sua obra plural, explorando e dando uma maior visibilidade à vertente científica da figura multifacetada que foi.
Enquanto histologista, Abel Salazar realizou investigação focada na observação microscópica de estruturas biológicas, incluindo extensa caracterização de tecidos do ovário. O seu trabalho tem uma grande componente metodológica, quer pelo desenvolvimento de procedimentos de coloração de estruturas biológicos (o método tano-férrico e suas derivações) quer pela reflexão acerca do processo de desenho microscópico.”

Na exposição, estão colocadas na mesa do fundo, fotocópias de imagens de pinturas, de desenhos e de aguarelas de Abel Salazar, “as imagens da intimidade que são solidárias das gavetas e dos cofres, solidárias de todos os esconderijos em que o homem, grande sonhador de fechaduras, encerra ou dissimula seus segredos.”5  Como se fosse o baú escondido do tesouro de Abel Salazar.

É sempre um desafio pensar-se na estética da ciência como arte, com Abel Salazar esse repto foi superado ao olharmos para os vários exemplares de imagens que agora expomos. Podemos também referir como outro médico-pintor, Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), “dividiu o prêmio Nobel de 1906 com Camillo Golgi pelos seus trabalhos sobre o sistema nervoso central. O cientista espanhol foi quem descobriu as estruturas de redes de neurônios no nosso cérebro pela primeira vez com um magnífico detalhe. Cajal queria ser artista, o seu pai sonhava que fosse médico. O jovem juntou as duas coisas, os seus desenhos do emaranhado celular nervoso impressionam até hoje. Mais de um século depois de reconhecido como cientista, os seus desenhos estão expostos em galerias de arte e reconhecidos como tal.”6 Aqui no museu temos o Abel Salazar o nosso investigador-pintor.

Sofia Marçal

 

Peças expostas:

  • Mesa à esquerda: Documentação e desenhos de Abel Salazar.
  • Vitrina ao centro: Lâminas das preparações histológicas de Abel Salazar; desenhos de Abel Salazar, das células observadas ao microscópio.
  • Mesa à direita: Instalação: Em Tannin-Fer, num primeiro núcleo, bugalhos (ou nozes-de-galha), folhas secas e lascas de ferrugem representam tanino e ferro; estes materiais são de imediato associados a um contexto de laboratório pelos recipientes em que são apresentados, facilmente reconhecíveis como tendo essa origem.
    O segundo núcleo surge como um mosaico de tinas de coloração, balões e outros vasos, mostrando algumas das soluções usadas, de cores diversas; de alguma forma, o arranjo em mosaico representa o esforço de composição das imagens histológicas pelo recurso a diferentes corantes em associação com o método tano-férrico.
    Bloco de parafina de grande dimensão, ampliando os usados na inclusão de material biológico para processamento.
  • Mesa lateral à esquerda: Lupa binocular.
  • 11 imagens suspensas de observações microscópicas de preparações de lâminas histológicas.
  • Mesa ao fundo: Fotocópias de desenhos, pinturas e aguarelas de Abel Salazar.

Ficha técnica:
Curadoria - Sofia Marçal e Maria do Carmo Elvas
Apoio científico - Maria Strecht, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, UP
Organização – Luísa Garcia Fernandes, Museóloga e da Direção da Associação Divulgadora da Casa-Museu Abel Salazar.  Apoio André Azevedo, Casa-Museu Abel Salazar
Fotografias – Agradecimento à Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Montagem- Carlos Delgado

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1 - Branca Edmeé Marques, (1899-1986), cientista portuguesa na área de física e química. Doutorou-se  em 1935, na Universidade de Paris sob orientação de Marie Curie.
2 - Consultar o livro ALVES, Manuel Valente. Transparência - Abel Salazar e o Seu Tempo, um Olhar. Porto: Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República/ Museu Nacional de Soares dos Reis, 2010.  
3 - Montesquieu, in: Ensaio sobre o gosto, p.46.
4 - Maria Strecht, é Professora Auxiliar no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, UP
5 - Gaston Bachelard, in: A Poética do Espaço, p.245.
6 - Peter Schulz,  In: A ciência sempre precisou da arte.
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/peter-schulz/ciencia-sempre-precisou-da-arte

 

 

Inauguração dia 18 de maio, 18h00 às 20h00

 

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